terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Saltitos de Nijinski

Os dias andam embaçados. Muito vapor e altas temperaturas. Preguiça e torpor. Ando pelas ruas do bairro vendo elefantes em fila, enquanto tento chegar ao céu, enquanto as crianças dão saltitos de Nijinski, como diria Torquato. E o tempo, enquanto isso, derrete, transformando-se numa massa disforme, feita de memória, saudade e desejo. Tento não pensar nela, na máscara de ausência que ela vestiu outro dia. O olhar distante, ciscando sem pouso. Em meio a tantos amigos, em meio a tantos desencontros, desperdicei ideias, mas resguardei sentimentos. Me empedrei. E, vestido de muro, sigo na cidade, e a cada esquina espero um grande encontro. Ando de braços abertos. Faço caminhos certos pelo bairro, em meio à profusão de prédios, cada vez mais sufocantes. Um após o outro, monstros de concreto chegam, aumentando minha solidão. E penso nela. Tão distante, tão ausente. E me pergunto: quem será? Quem foi aquele ser que descruzou olhares comigo. Não terá suportado a intensidade? Ou simplesmente não quis cutucar a onça de perto. A própria fera que leva dentro de si. E com tanta família, tantos amigos, tanto conhecidos, tantas pessoas outras, crianças, saltitos de Nijinski. Me empedrei. E sinto o sangue parado, denso, concreto, abandonado à rua. Então abro os braços à esquina, pronto para me entregar inteiro ao encontro com ela, que está perto, logo depois do vento que me desfaz, poeira. Pó.

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