quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Odisseia

Uma brisa atravessa a casa. O mundo desperta aos poucos. O trânsito invade pela janela e coloca a cidade na sala. Ouço o ronco de motores e começo o dia cheio de esperanças. Estou leve e solto no mundo, como um pássaro. De repente, me lembro dos meus primeiros dias de escola, já velho, aos 7 anos. Em meio ao terror do novo, hoje consigo vislumbrar também um orgulho por vestir uniforme e me situar na vida, com minha pasta, material escolar. Tudo mudara, subitamente. E tive certeza de que começara a vida adulta. O tempo ganhou amarras, prazos. Nunca mais aquele contínuo sem fim, escorrendo pelas horas, pelos dias. Me pergunto se a aposentadoria seria uma volta a esse estado, antes da morte. Uma espécie de Ítaca, que ficara pra trás, como uma paisagem que permanecera intacta à minha espera, eu, uma espécie de Ulisses, voltando da guerra para sua Penélope, para sua casa, cheio de cicatrizes e a vida por contar.

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