terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Coringa

Me lembro de seus membros um a um, movendo-se ao ritmo de algum som transcendental naquele salão imenso, escondido nos fundo de um prédio velho. Só nos dois. Você entregue num êxtase próprio e eu, hipnotizado, apaixonado, acompanhando cada gesto, cada passo, cada movimento de seus quadris, pernas, tronco... Peguei então a câmara e entrei na dança. Minha dança, aquela que, descoordenado, permitia me aproximar. Cada um na sua arte, mas combinando. Você nem se incomodou. Permaneceu movendo-se, mergulhada no êxtase que o corpo lhe proporcionava. Fotografei e fotografei na mesma sintonia, no mesmo frenesi. Numa época pré-digital, com filme de película, em rolos com fotogramas limitados. Depois levei para revelar. E, claro, com tanta movimentação, luz oblíqua, baixa velocidade, a maioria das fotos se perdeu em borrões desfocados. O que até fez um estilo meio psicodélico, fotos em movimento, insinuações. Mas um fotograma captou o que queria. Um em que o dedo coincidiu com o enquadramento, a composição, a luz e, acima de tudo, sua expressão. Seu êxtase. Seu amor ao mundo. Você íntegra neste planeta. Conectada com o cosmos. Inteira.

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